segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma palha na montanha de agulhas.

No clímax de um tédio infeliz e incerto, criei mais dez tópicos utópicos para tornar a felicidade eterna, ou apenas possível.
Já que estamos sempre insatisfeitos por ter poucas posses, ou por dinheiro não comprar a felicidade, apostaria no mundo do sal salário, e no sistema antigo de trocas, e tudo teria tanto valor que nos surpreenderia de tanta inocência.
Falando de posses, o homem pode pelejar para modificar a natureza, mas nunca conseguirá mudá-la, pois é parte dela, e assim como nada pode vir de outra fonte – senão da própria – toda criação do homem, a ela pertence. Assim, o Deus do nosso mundo devia apagar da mente do homem, essa idéia de vender água, comprar terra, empacotar o ar ou prender o fogo, e tudo teria tão maior valor...
Não deveria haver governo, governante sequer, ou status, assim cada um teria valor pelo que é, nem que fosse pela simpatia do nome ou pela razão de seus sorrisos, e todo mundo saberia realmente o significado e importância de beleza interior, enfim, sem se confundir.
Não deveriam haver igrejas, tampouco vários tipos delas, para que qualquer lugar fosse lugar de juntar as mãos, se ajoelhar e conversar com o céu, já que toda criação do mundo vem de lá, talvez assim, todo lugar fosse respeitado e não houvesse hipocrisia, e aí sim, só haveriam razões para agradecer.
Idolatria não era para ser uma palavra inventada, por que as pessoas adoram tanto a outras que não têm mais tempo de procurar o próprio talento. Cada um deve ser fã de si, com amor, para aprender a entender mais as próprias razões, e respeitar mais a própria vida.
No meu mundo dos sonhos não existiriam divisas imaginárias no planeta, essas que o homem faz (e constantemente modifica) quando resolve brincar de Deus. Não fosse pela ambição do homem de chegar aos céus – aliás – haveria uma só língua, e a palavra ‘língua’ teria um só significado. Pense quantas pessoas deixaram de se conhecer, e quantas declarações não houveram, e quantos amores deixaram de existir, pelo fato de cada lugar ter um nome e um limite. Talvez tantas guerras evitadas. Tudo por que isso separa tanto o homem... Quem não mora na mesma casa, não é mais irmão? Se não fossem essas linhas malditas, poupar-se-ia o trabalho de lutar por patriotismo, e aí sim amaríamos ao próximo não importasse quão longe ele vivesse: todo mundo dando bom dia a todo o mundo como uma grande vizinhança.
Se não existissem tantas coisas ruins, iriam sobrar nomes diferentes para dar nomes às coisas boas que começariam a existir. Imagine uma nova espécie de flor que existiria em um lugar que viraria um enorme edifício, chamada guerra. Ou um pássaro que nasceu de um cruzamento que existiria não fosse a extinção, chamado arma de fogo. Aí todas as palavras seriam bonitas como música. E nenhuma causaria medo ou angústia. E aí sim, quem sabe, a primeira paz mundial nunca seria a última.
Toda tecnologia funcionaria exclusivamente para facilitar a vida, mas a vida feliz. Sem diferenças, visíveis ou mascaradas. Mas não é sorrir não, é rir mesmo com toda a vontade como uma fábrica de risos, ou uma máquina de cócegas.
E o que dizem por aí “viver cada minuto intensamente” não deveria fazer referencia a aproveitar ao máximo ou se acabar em sua forma humana, sim viver cada minuto sabendo o que é ser feliz e vivê-lo assim, nessa plenitude. Aproveitar um tubo de pasta de dentes é acabar com ele até a última gota, mas aproveitar o nosso tempo é encontrar equilíbrio em cada sorriso escachado, singelo ou amarelo. E seria assim que talvez não houvesse mais necessidade de redenção ou pretexto para um inferno.
Não deveria haver violências contra nenhum ser, para que não existissem musicas reclamando da realidade, pois que eu reclamo que não pode haver arte que descreve a vida, se não arte não seria, ora! Mas a vida deve tanto imitar a arte, por que ela é o que cada um sonha.
Ainda assim a vida não deixa de ser tão bonita... Em pensar dessa forma, ser um grão, que vira um ser, que respira e tem um coração que bate, primeiro dentro da gente, junto com o nosso. E depois nasce do nosso ventre, e que daqui a uns anos vai ultrapassar nossos ombros, e aí nosso corpo nos abandona, por que pensa que já é hora de deixar nas mãos de outros nossa missão, e raciocina sem perguntar ao nosso coração se queremos ir mesmo embora. E nos perguntamos – pelo menos uma vez na vida – para que viver então? Mas no fundo sabemos que a morte é o que dá sentido à vida, por que se o fim ou o medo do fim não existisse, para que trabalhar? Para que criar cada filho com amor? Para que amar? E para que razão dar nome à vida?
E só isso, só esse sonho complexo infantil, concertaria todo o estrago que a primeira mordida na primeira maçã, causou ao resto da humanidade, até o julgamento. Seria mais fácil pensar que a natureza nos deu tudo, e só tirou do ser humano quando deu a ele o livre arbítrio. Por esse recalque de ser a única parte da natureza imperfeita, que o ser humano busca por perfeições superficiais. Mas sempre haverão anjos que se rebelarão ambicionando pensar por si, e sentir como os humanos, para estragar tudo outra vez.

Nota.: as pessoas só serão felizes quando vier a paz. Por que as pessoas não gostam do inferno em terra, nem do barulho, ou da baderna, elas apenas se acostumam.